terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Verdade e Liberdade

Pode ser que alguns não tenham muita afinidade com alguns termos desse texto, pois tem um cunho filosófico (sou estudante de filosofia para quem não sabe), mas persevere e leia até o fim e tire sua próprias conclusões sobre o que temos presenciado atualmente em relação àquilo que muitos chamam de cristianismo. Verdade e Liberdade - Tanto Platão quanto Cristo evocaram a relação íntima que há entre verdade e liberdade. Platão evocou-a através da Alegoria da Caverna. Cristo, ao dizer: é a verdade que torna o homem livre. Para Agostinho e os medievais, liberdade não é simplesmente livre-arbítrio. O livre arbítrio é condição necessária, mas não suficiente para que o homem seja livre. Com o seu livre arbítrio, o homem pode trair a convocação de ser livre, pode se tornar escravo de sua ignorância, em vez de ser tornar livre pela verdade. Liberdade, concretamente falando, só se dá num processo histórico de libertação. Libertação da ignorância, libertação para a verdade. Somente o homem que se desprende de tudo e se vê a sós com a verdade, somente este homem é plenamente livre. Cristianismo e cristianidade - Essa é uma distinção de Franz Overbeck, teólogo amigo de Nietzsche. Cristianismo é fenômeno de poder histórico, que se funda na cristianidade e surge como institucionalização do movimento cristão pela "oikoumene" (o mundo histórico que se estrutura em torno do mediterrâneo, a partir da herança grega). Cristianidade é a essência, isto é, a vigência, o vigor, em que se funda a existência da Fé. Pois Fé não é propriamente crença religiosa. Fé (cristã) é existência em Cristo. Fé é o evento da gratuidade da liberdade da verdade de Cristo no mistério da própria existência humana. O a priori da Fé (estou falando da fé cristã) é Cristo. O cristão não aquele que escolheu Cristo, mas é aquele que foi colhido pelo encontro com Cristo. À Fé não se chega pela razão, embora não se chegue sem a razão. A razão pode preparar o salto da fé (Preambula Fidei - os preâmbulos da Fé, dirão os medievais). Mas o salto mesmo, só se pode dar na obediência cordial ao mistério que ultrapassa a própria razão. À Fé só se chega pela própria Fé. Para se entrar na Fé é preciso se dispor, na liberdade, ao salto da própria Fé. Não obstante, a Fé não exclui a razão, pois inclui, solicita e promove a libertação e a liberdade do homem. Fides quaerens intellectum (a Fé buscando o Intelecto) dirá Anselmo. Cristianidade é, pois viver na gratuidade da verdade de Cristo, perfazendo um caminho de libertação de toda ideologia, inclusive das ideologias do próprio cristianismo. Pois o cristianismo, embora se funde na fé, sempre de novo pode, na história, não acompanhar a graça da liberdade da verdade de Cristo. O cristianismo pode, sempre de novo, se pôr do avesso de sua essência. A inessência do cristianismo é o desvirtuamento de seu poder histórico. Quando isso acontece, em vez de servir à libertação do homem pela verdade de Cristo, o cristianismo serve à escravidão do homem, pela imposição de suas próprias ideologias. É então que o cristianismo cai no erro de querer impor uma verdade sem liberdade ou uma liberdade sem verdade.

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