terça-feira, 7 de julho de 2009

Ouvindo a voz da alma


OUVINDO A VOZ DE MINHA ALMA
Sinto que minha alma pede para descansar. Ela quer lazer. Ela reclama por sol. Ela me pede carinho. Ela deseja ninar. Ela está cansada. Ela pede a mim que lhe dê um tempo para repousar.
Interessante. A alma descansa sempre de modo oposto ao pólo ao qual ela mais se dedica. Músicos descansam da música que lhes dá alegria no viver. Mecânicos descansam das máquinas que lhes dão alma de mecânico. Negociantes descansam não pensando em dinheiro, ou, então, gastando-o. Somente a alma do play-boy crônico não descansa, pois este jamais pensa em trabalhar para descansar. E como vive de férias, só descansará quando for salvo pelo trabalho.
Quem trabalha em atividades paradas e mecânicas, mesmo que isso implique em relação de atendimento ao público, tende a gostar de uma “happy hour” para desconcentrar-se da rotina, e para nelas despertar a sadia alegria vadia. E assim é com todo aquele para quem o encontro humano é mecânico, rotineiro, formal, tenso ou obrigado.
Mas para alguém que lida com a condição humana de modo profundo, amplo e complexo, uma “happy hour” só será uma ‘hora feliz’ se a pessoa estiver em silencio e num ambiente de tranqüilidade. E mesmo o encontro humano, em tais casos, precisa ser completamente livre de qualquer peso ou preocupação com as pessoas com as quais aquele que busca o descanso esteja se relacionando no lazer, pois, do contrário, todo lazer, mesmo desse tipo, não trará descanso à pessoa que o busca.
Descanso demanda nudez. Descanso exige liberdade. Descanso se alimenta do conforto que vem da verdade de ser, sem preocupação com nada além de ser. Por isso descanso inclui no máximo a família ou a pessoa amada além da imagem, ou o amigo da mesma essência.
Sabe, coisa boa é poder estar em movimento. A terra se movimenta, o ar está em movimento, meu sangue corre pelas veias do meu ser, enfim estar em movimento é sinal de existência e vida. Trabalhar também “é preciso”, como diz o pensador. Não trabalhar apenas para acumular, ter, superar-se ou superar o outro. Não pra curar-se da baixa auto-estima, ou como um fim em si mesmo. Mas pra poder desenvolver habilidades, suprir necessidades, construir uma realidade melhor ao nosso redor. Mas...
A alma sempre pede descanso. O Rei Davi um dia disse pra si mesmo: “por que estás abatida, oh! Minh’alma”. Ele sentiu um sinal ou ouviu uma vozinha. O sinal vermelho havia acendido. Um alerta tocou. Aí, ele precisou parar. Deu ouvido à alma e discerniu quais eram os clamores do seu ser. É, a alma também precisa de descanso assim com o corpo. Descanso que seja apenas descanso. Não descanso “carregando pedra”. Descanso que não leve a gente fazer anda mais além de descansar. Nem livro, nem música nem conversa apenas descanso. Isso, de vezes em quando, é muito necessário, diria essencial.
Num mundo doido com vivemos, se não descansarmos a alma, vamos surtar.

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