
Casamento não é um cativeiro
Pássaros não foram criados para ficar presos. Eles foram criados para voar. Deus criou os pássaros e os homens às gaiolas. O canto do pássaro está associado à sua liberdade. Canto de pássaro preso é canto engaiolado. Apenas ouvirão quem estiver próximo da gaiola. Dois pobres engaiolados: o de dentro e o de fora. Um canto condicionado. Um canto programado. Um canto sem saudade.
Nenhum pássaro ama existir preso. Alguns dizem: esse pássaro é de cativeiro. Agora, se o pássaro pudesse falar e mostrar seus antepassados mostraria que o cativeiro dele é o horizonte, o infinito, a natureza, o mundo. O outro é que lhe condicionou ao aprisionamento. Aí, milhares de anos depois, transformaram o habitat do pássaro num cubículo feito de grades.
Da mesma forma, seres humanos não foram criados para viver aprisionados. Foram criados para a liberdade. Quando perdem a liberdade perdem a vontade de cantar. Perdem o encanto de sua humanidade. Ninguém se torna mais encantador e melhor engaiolado. Apenas não pode bater asas e voar.
Assim é com o casamento. Ele não é um cativeiro. Não pode ser construído por grades. Não pode se tornar uma gaiola. Casamento de engaiolados é união compulsória. Amar, viver, responder, construir, tocar, falar e cantar assim perde a magia da relação. Perde o feitiço.
A relação proposta na liberdade gera saudade, leveza e gostosura. O canto da minha amada está em ser ela mesma. Não tenho o direito de aprisioná-la. Ela só é inspirada na liberdade de ser ela mesma.
Liberdade no casamento não significa individualismo nem falta de compromisso. Significa que o outro é um ser, um indivíduo, um canto a ser cantado. É permanecer no direito de continuar sendo o que era antes e enriquecer o outro com seu mais belo canto e vôo.
Muitos têm transformado o casamento em gaiolas. Gaiolas loucas, gaiolas tristes, gaiolas pobres. Por que será que muitos sonham com o momento de encontrar uma brecha na gaiola? Apenas pelo desejo de voar e respirar seu próprio ar. De comer o que quiser, sentir seu sentimento, sofrer sua própria dor e entoar seu próprio canto.
Quando o casamento vira camisa de força; quando a relação é construída pelo dever e não pelo amor; quando a bondade é fruto do constrangimento e não da livre vontade; quando um é vítima dos sentimentos, desejos, sonhos e frustração do outro, essa relação está sendo desenvolvida dentro de gaiolas.
Esses casamentos produzem até muitos cantos. Mas, são cantos sem harmonia. Cantos sem criatividade. Sem poesia. Sem improviso. Sem coração. Sem alma. Apenas sons.
São cantos condicionados e aprisionados. Cantos obrigatórios. Cantos barganhados. Cantos cheios de regras, normas e austeridade. São cantos esperados.
Nesse ambiente, o casal é como pássaros sem liberdade. Pássaros que se alimentam, levantam, trabalham, compram, viajam e vivem dentro de miseráveis, sufocantes e condenatórias gaiolas. É a maldição causada pela arapuca do controle e do direito sobre o outro.
Eu prefiro voar, alimentar-me daquilo que vem do criador e cantar o canto da liberdade e de ser eu mesmo. Eu e minha amada sabemos viver em liberdade. Vivemos fora da gaiola. Cada um tem seu vôo e seu canto. A liberdade curtida nunca foi signo de individualismo ou ausência de compromisso. Pelo contrário, somos cúmplices do canto e do vôo do outro. O canto dela me inspira a voar. E meu vôo a faz cantar. Assim nossa gaiola é a imensidade como o templo do criador é sua própria criação.
Não. Casamento não foi feito para ser vivido em gaiolas. A não ser que a gaiola seja o amor. O amor é paciente, prestativo, não é invejoso, não se ostenta e nada faz de inconveniente. Não procura seu próprio interesse, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Essa é a gaiola permitida. E, tudo isso, vivido na plenitude desse maravilhoso ato – ser os dois uma só carne.
 
 
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